Faz falta ser cego,
ter como metidas nos olhos raspaduras de vidros,
cal viva,
areia a ferver,
para não ver a luz que salta em nossos actos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra quotidiana.
Faz falta querer morrer sem lápide de glória e alegria,
sem participação nos hinos futuros,
sem lembrança nos homens que julguem o passado sombrio da Terra.
Faz falta querer já na vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta, esquecimento seco.
Rafael Alberti, in " Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea" assírio & alvim, 1985
trad. José Bento
domingo, 8 de março de 2009
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